segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

 

Entrevista com Laurentino Gomes

Sou fã de Laurentino Gomes por causa dos livros 1808, 1822 e 1889, que contam a vinda da família real portuguesa ao Brasil, a independência e proclamação da República respectivamente.

A revista Época Negócios traz uma entrevista interessante com Laurentino, que reproduzo aqui alguns trechos.

Vale à pena ler.

"Qual sua opinião sobre as manifestações populares que vimos neste ano? 
O Brasil não se reconhece nas instituições de Brasília. Há grande questionamento a respeito de quem nós somos. Vejo com bons olhos os protestos. Para mim, ver jovens na rua é surpresa. Eu – e acredito que a maioria dos brasileiros – achava que os jovens estavam anestesiados, que só queriam tomar cerveja e participar de baladas, mas não, eles estão na rua se manifestando politicamente. É bom sinal. Mas acho que o desafio hoje é assumir a república que nós escolhemos. Entre os jovens que foram para a rua, muitos pregavam, nas eleições de 2010, voto nulo. Aí é a negação da república que escolhemos. Na república democrática, um instrumento de transformação é o voto. É bom se manifestar, mas democracia não se faz no grito.

O que esperar de 2014, ano de eleições? 
Vivemos um período inédito de 30 anos de democracia relativamente estável. Não teve ruptura, ameaça séria de golpe. Pela primeira vez estamos topando o desafio de construir um país coletivamente. Não podemos nos assustar com os casos de corrupção vindo à tona, com as manifestações, mesmo quando degeneram para violência. Dizer que o país não tem conserto, é corrupto mesmo, violento e ineficiente significa acomodar-se. Temos de ser perseverantes. O Brasil acostumou-se a ser um país de salvadores da pátria, de soluções milagrosas, isso é típico de uma monarquia. Mas numa democracia republicana quem resolve nossos problemas somos nós. Existe a ilusão de que quem constrói cidadania é o Estado. Não é. O Estado é reflexo da sociedade. Precisa haver uma mudança de cultura da sociedade através da educação e promoção de valores democráticos, ao mesmo tempo em que é necessário uma reforma do Estado, porque um Estado muito forte e cheio de regulamentos induz à corrupção, sim.

Você está dizendo que ainda conservamos uma certa herança cultural da época do império. Vê outras similaridades entre o Brasil de 1822 a 1889 e o Brasil de 2014?
Ao longo de sua história, o Brasil falhou na tarefa de realizar coisas importantes, como prover educação para todos, reduzir a pobreza e formar cidadãos capazes de conduzir os seus próprios destinos em um ambiente de democracia. As pessoas participam pouco da atividade política, não vão a reuniões de condomínio ou de pais e mestres, desprezam os partidos políticos, não ligam a mínima para os sindicatos e associações de bairro, ou seja, são totalmente ausentes das decisões que afetam a sua vida. Mas cobram muito do Estado. Acho que essa falta de interesse é uma herança da época da monarquia, em que um rei ou um imperador teria a missão de cuidar do bem-estar geral. O Brasil, como já disse, é um país messiânico, que busca salvadores da pátria. Foi assim com Getúlio Vargas, o pai dos pobres, e com os generais do regime militar de 64. E continua ainda hoje, com FHC, o homem que domou a inflação, ou Lula, o novo pai dos pobres. Nosso desafio atual é educar as pessoas para que se tornem cidadãs de pleno direito, capazes de romper com essa herança histórica."

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